O ouro de tolo do “Marketing Digital”

Se você utiliza redes sociais e acompanha conteúdos no YouTube, sabe que existe uma febre de gurus do “marketing digital” induzindo pessoas em geral sobre as facilidades de “enriquecer vendendo na internet”. Será a versão moderna do ouro de tolo?

Vamos iniciar a discussão com uma questão básica: se você tivesse um método exclusivo que lhe rendesse muito dinheiro online … você iria lucrar com ele ou difundi-lo, de forma a criar concorrentes para sua própria inovação? Você tem a fórmula da Coca-Cola … gostaria que todos seus concorrentes fizessem o mesmo refrigerante, acabando com seus diferenciais competitivos?

Muitas pessoas estão obcecadas pela imagem de “sucesso” imposta pelas redes sociais. Carros, viagens, ostentação de gastos. O bombardeio do life style dos influenciadores digitais é diário e isso molda mecanismos de frustração e gatilhos mentais, tornando o espectador um fracassado. Quando este seguidor se considera um fracassado, este se torna um alvo fácil para os “gurus” da ostentação.

Perceba: nossos “gurus digitais” não estudam profundamente nenhum assunto. Vivem de ideias rasas, de conceitos rasos, em sua ampla maioria copiados de influenciadores estrangeiros. Já os influenciadores estrangeiros replicam modelos e formas de indução dos primeiros “empreendedores de palco”, provindos dos anos 60 e 70.

No início do século XX já convivíamos com o precursor da mentalidade de sucesso, Napoleon Hill. Basta você ler um único livro do autor para encontrar seus ditames nos palestrantes motivacionais dos anos 60 e 70 e replicados sequencialmente, ainda mais atualmente com as facilidades de uma sociedade conectada e digital, seja em canais de vídeos, seja nas redes sociais.

Ideias chulas de facilidades e novas modalidades de marketing, como se algum dos “gurus” entendesse realmente algo do assunto, contaminam o debate mercadológico. Você não vê nenhuma empresa contratando nenhum desses empreendedores de palco para reformular seu planejamento de marketing, mas as pessoas que admiram seus estilos de vida e as ideias rasas desembolsam milhares de reais em seus cursos milagrosos e eventos dignos de superproduções do Cirque du Soleil (que, diga-se de passagem, apesar dos inúmeros elogios dessa turma de gurus por sua diferenciação, foi à falência).

Vamos a uma questão prática: que produtos ou serviços os “gurus” venderam ANTES de seus cursos de como vender algo magicamente e enriquecer?

Obviamente, você vai encontrar no mercado empresários de sucesso falando sobre suas técnicas. Mas perceba que nenhum desses empresários fala em fórmulas mágicas de marketing digital, muito menos nos diversos profissionais qualificados que precisaram contratar em sua trajetória de crescimento.

Sim, conhecimento é valioso. Profissionais qualificados são valiosos. Enquanto seu guru preferido ostenta um padrão de vida de milionário, existe uma equipe trabalhando 24h por dia na manutenção de seus negócios. E essa equipe não é composta de pessoas que fizeram seu curso de enriquecimento fácil pela internet.

Reflita: se é fácil, por que as próprias pessoas que trabalham com o “guru” não estudam seus métodos, tiram suas dúvidas com ele e vão fazer seus próprios negócios milionários em vez de trabalhar para um fanfarrão digital?

Pessoas qualificadas, lembre-se disso.

Se você dá a fórmula secreta da Coca-Cola para todos, porque seus empregados não produzem sua própria versão da Coca-Cola em vez de trabalhar produzindo a sua?

Será que é mesmo fácil enriquecer com “marketing digital”?

Por que os “gurus” insistem tanto em desmerecer conhecimentos acadêmicos e formações estruturadas, sejam graduações ou pós-graduações? Porque trabalhar e estudar arduamente é para os “abobados” e fazer seus cursos milagrosos é para os “espertos”?

Esses cursos mirabolantes são a roupa invisível do rei nu que só os inteligentes veem. E pra ser inteligente você precisa seguir cegamente seu guru.

E quando fracassar, é porque não entendeu como aplicar tais conhecimentos, afinal ganhou a fórmula secreta da Coca-Cola e não conseguiu vender. Você é o incompetente, não o guru que lhe passou “tudo que você precisava saber”.

Estude. Se desenvolva constantemente. Esqueça livros de autoajuda, esqueça gurus motivacionais. Leia conteúdos de verdade, veja vídeos técnicos. Busque técnicas, se desenvolva.

Aprenda a utilizar ferramentas digitais sim, são importantes. E raramente você encontrará isso em uma graduação ou pós. Pode parecer incrível, mas a melhor forma de aprender a utilizar essas ferramentas é estudas os conteúdos de sua própria desenvolvedora. A Google quer que você saiba criar anúncios e ser bem sucedido neles, portanto disponibiliza milhares de materiais de estudo. O Facebook quer que você saiba criar anúncios, tanto em sua plataforma principal quanto no Instagram. E lhe ensina.

O que você não vai aprender facilmente é a criar estratégias. E é aí que está a validade de estudar com profissionais experientes, tanto em questões teóricas quanto práticas. Livros, artigos e vídeos feitos por profissionais especializados não tendem a ser divertidos, mas possuem uma carga de conhecimentos que você pode adquirir e aplicar, baseados em erros e acertos, nunca em formulismos.

Seja melhor todos os dias. Estude todos os dias. Valorize suas pequenas conquistas diárias.

Se torne um profissional efetivamente competente.

E deixe o ouro de tolo dos gurus para seus concorrentes.

O autor é Consultor da IDATI CONSULTORIA E TREINAMENTO

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4 Responses

  1. perfeita colocação.
    Vale inclusive a pergunta, se o guru milagreiro, com soluções milionárias de curto prazo, ja terminou de pagar o corsa 2006.

  2. Os gurus atuando com time de Growth marketing pesado, e o pessoal achando que vão comprar a fórmula da coca. Não tem fórmula mágica.

  3. Um dos melhor e verdadeiros artigos que já lí aqui na internet. É como aqueles indivíduos que querem aprender uma língua em 6 meses. (Ha ha ha) a pergunta é você é um savant? Até mesmo a própria BBC (British Brodcast) já fez inúmeras pesquisas e o que você precisa é em média 1.765 horas ( uma média)! 4 anos se vocês não entenderam. Deixem de lado os “gurus” das línguas e comecem a estudar. Aqui vai um resumo da pesquisa. (Se não conseguirem ler me chamem pelo WhatsApp)

    https://www.bbc.com/news/magazine-23407265.amp

    Obrigado por desmistificar esta besteira de que tudo é rápido. Deixo meu pensamento aqui .

    Sim pode aprender a falar e a ouvir em dois anos, mas exigirá uma dedicação monstra! É o mínimo que posso fazer pelos meus alunos menos que isso. Vai saber pedir água e coca cola! Sem muitas conversas e sem muitos amigos nativos da língua.

    Abraço e obrigado prof Alex Kunrath

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